Brasília / DF - quinta-feira, 02 de maio de 2024

Verdades Sobre o Orgasmo Feminino e a Ditadura do Orgasmo

  Verdades sobre o orgasmo feminino e a ditadura do orgasmo

PAGINA ORGASMO

  • A maioria das mulheres necessita de estímulo clitoridiano para chegar ao orgasmo e só uma minoria consegue atingir o orgasmo com a penetração vaginal sem estímulo clitoridiano sempre ou em quase todos os intercursos vaginais 1,2,3.

Não consideramos que uma mulher tem dificuldade de ter orgasmo se ela não for estimulada no clitóris (na duração e intensidade necessárias para ela). Por isso, muitas mulheres afirmam só conseguir atingir o orgasmo durante as “preliminares”. Mesmo durante a penetração, o estímulo clitoridiano deve ser buscado, seja por uma posição que favoreça esse estímulo (como alinhamento coital) ou pelo estímulo com a mão (da mulher ou parceiro). Mas sempre há exceções, cerca de 1% das mulheres conseguem atingir o orgasmo sem necessidade nem mesmo de estímulo genital (conseguem com estímulos na mama ou fantasias apenas) e estima-se que aproximadamente 30% não necessitem do estímulo clitoridiano rotineiramente, consigam com estimulação vaginal apenas.


  • Algumas mulheres que têm dificuldade de atingir orgasmo não se sentem incomodadas com isso e, portanto, não devem ser tratadas 4,5.

Uma famosa pesquisadora chamada Rosemary Basson (há uma página sobre ela e seu modelo nesse site – Resposta sexual feminina) determinou uma nova forma de ver a sexualidade feminina em mulheres em relacionamentos antigos onde, segundo esse modelo, algumas mulheres ficam muito satisfeitas no ato sexual mesmo sem atingir o orgasmo. Isso ocorre porque muitas mulheres em relacionamentos antigos buscam o ato sexual não pelo desejo sexual e sim por razões não sexuais, como: aumentar a intimidade, se sentir desejada, aumentar a vinculação afetiva e até mesmo agradar o parceiro (mesmo que isso não seja consciente). Consideramos que uma mulher em um relacionamento antigo está normal se ela tem um desejo sexual responsivo, e não necessariamente espontâneo (como ocorre na maioria dos homens e mulheres em relacionamentos recentes). É claro que, sempre haverá exceções, algumas mulheres em relacionamentos antigos mantém o desejo sexual espontâneo: pensam muito em sexo, se sentem motivadas só de olhar para o parceiro: mas essas são minoria! A mulher com desejo responsivo percebe o desejo sexual quando já se encontra no ato sexual, ou seja, entra sem vontade, mas quando começa é bom e responde com excitação (subjetiva e lubrificação). Podemos dizer que ela está normal quando ao término do ato sexual ela encontra satisfação (com ou sem orgasmo). O auge do ato sexual da mulher é a satisfação (mesmo que para algumas, o orgasmo não seja essencial).


  •  Mulheres fingem orgasmo para manter seus parceiros6.

Um estudo realizado em 2012 nos Estados Unidos questionou entre mulheres universitárias se elas já tinham fingido orgasmo e, se sim, qual a razão. Em torno de 53% das mulheres assumiram já ter fingido orgasmo. Esse estudo está compatível com dados de outros estudos que chegaram a um percentual em torno de 50 a 60%. As razões mais freqüentes foram: corresponder às expectativas do parceiro, estimular o ego do parceiro, aumentar a excitação do parceiro e a mais citada: prevenir o término da relação e a infidelidade.

Observamos no consultório mulheres bem resolvidas com a sua sexualidade, que não têm queixa sexual nenhuma ou incômodo, mas que se sentem pressionadas pelos seus parceiros a terem orgasmos vaginais ou simultâneos, a ponto de se sentirem magoadas e infelizes com essas cobranças. Reféns da chamada: ditadura do orgasmo! Quando o orgasmo deixa de ser um direito da mulher e passa a ser um dever ou uma obrigação. As cobranças, muitas vezes, baseiam-se em comparações irreais (com parceiras antigas ou áudio-visuais) e que, infelizmente, tiram a espontaneidade do ato sexual por focarem mais na performance que no prazer e na intimidade, causando sofrimento e problemas afetivos.


  Referências

1)       Graham C.A. The DSM diagnostic criteria for female orgasmic disorder. Arch Sex Behav. 2010, 39: 256-270.

2)       IsHak W.W., Bokarius A., Jeffrey J.K. Disorders of Orgasm in Women: a literature review of etiology and current treatments. J Sex Med. 2010, 7:3254-3268.

3)       Laan E., Rellini A.H., Barnes T. Standard operating procedures for female orgasmic disorder: consensus of the international society for sexual medicine. J Sex Med. 2013, 10: 74-82.

4)       Basson R. Women’s sexual desire and arousal disorders. Primary Psychiatry. 2008; 15(9): 72-81.

5)       Basson R. Human sex-response cycles. Journal of Sex & Marital Therapy. 2001; 27(1): 33-43.

6)       Kaighobadi F., Shaclelford T.K. Do women pretend orgasm to retain a mate? Arch Sex Behav. 2012, 41: 1121-1125