Verdades sobre o orgasmo feminino e a ditadura do orgasmo
Não consideramos que uma mulher tem dificuldade de ter orgasmo se ela não for estimulada no clitóris (na duração e intensidade necessárias para ela). Por isso, muitas mulheres afirmam só conseguir atingir o orgasmo durante as “preliminares”. Mesmo durante a penetração, o estímulo clitoridiano deve ser buscado, seja por uma posição que favoreça esse estímulo (como alinhamento coital) ou pelo estímulo com a mão (da mulher ou parceiro). Mas sempre há exceções, cerca de 1% das mulheres conseguem atingir o orgasmo sem necessidade nem mesmo de estímulo genital (conseguem com estímulos na mama ou fantasias apenas) e estima-se que aproximadamente 30% não necessitem do estímulo clitoridiano rotineiramente, consigam com estimulação vaginal apenas.
Uma famosa pesquisadora chamada Rosemary Basson (há uma página sobre ela e seu modelo nesse site – Resposta sexual feminina) determinou uma nova forma de ver a sexualidade feminina em mulheres em relacionamentos antigos onde, segundo esse modelo, algumas mulheres ficam muito satisfeitas no ato sexual mesmo sem atingir o orgasmo. Isso ocorre porque muitas mulheres em relacionamentos antigos buscam o ato sexual não pelo desejo sexual e sim por razões não sexuais, como: aumentar a intimidade, se sentir desejada, aumentar a vinculação afetiva e até mesmo agradar o parceiro (mesmo que isso não seja consciente). Consideramos que uma mulher em um relacionamento antigo está normal se ela tem um desejo sexual responsivo, e não necessariamente espontâneo (como ocorre na maioria dos homens e mulheres em relacionamentos recentes). É claro que, sempre haverá exceções, algumas mulheres em relacionamentos antigos mantém o desejo sexual espontâneo: pensam muito em sexo, se sentem motivadas só de olhar para o parceiro: mas essas são minoria! A mulher com desejo responsivo percebe o desejo sexual quando já se encontra no ato sexual, ou seja, entra sem vontade, mas quando começa é bom e responde com excitação (subjetiva e lubrificação). Podemos dizer que ela está normal quando ao término do ato sexual ela encontra satisfação (com ou sem orgasmo). O auge do ato sexual da mulher é a satisfação (mesmo que para algumas, o orgasmo não seja essencial).
Um estudo realizado em 2012 nos Estados Unidos questionou entre mulheres universitárias se elas já tinham fingido orgasmo e, se sim, qual a razão. Em torno de 53% das mulheres assumiram já ter fingido orgasmo. Esse estudo está compatível com dados de outros estudos que chegaram a um percentual em torno de 50 a 60%. As razões mais freqüentes foram: corresponder às expectativas do parceiro, estimular o ego do parceiro, aumentar a excitação do parceiro e a mais citada: prevenir o término da relação e a infidelidade.
Observamos no consultório mulheres bem resolvidas com a sua sexualidade, que não têm queixa sexual nenhuma ou incômodo, mas que se sentem pressionadas pelos seus parceiros a terem orgasmos vaginais ou simultâneos, a ponto de se sentirem magoadas e infelizes com essas cobranças. Reféns da chamada: ditadura do orgasmo! Quando o orgasmo deixa de ser um direito da mulher e passa a ser um dever ou uma obrigação. As cobranças, muitas vezes, baseiam-se em comparações irreais (com parceiras antigas ou áudio-visuais) e que, infelizmente, tiram a espontaneidade do ato sexual por focarem mais na performance que no prazer e na intimidade, causando sofrimento e problemas afetivos.
Referências
1) Graham C.A. The DSM diagnostic criteria for female orgasmic disorder. Arch Sex Behav. 2010, 39: 256-270.
2) IsHak W.W., Bokarius A., Jeffrey J.K. Disorders of Orgasm in Women: a literature review of etiology and current treatments. J Sex Med. 2010, 7:3254-3268.
3) Laan E., Rellini A.H., Barnes T. Standard operating procedures for female orgasmic disorder: consensus of the international society for sexual medicine. J Sex Med. 2013, 10: 74-82.
4) Basson R. Women’s sexual desire and arousal disorders. Primary Psychiatry. 2008; 15(9): 72-81.
5) Basson R. Human sex-response cycles. Journal of Sex & Marital Therapy. 2001; 27(1): 33-43.
6) Kaighobadi F., Shaclelford T.K. Do women pretend orgasm to retain a mate? Arch Sex Behav. 2012, 41: 1121-1125