Brasília / DF - quinta-feira, 02 de maio de 2024

Gravidez e Sexualidade

Vida Sexual da Mulher Grávida - informação aos casais

Quando uma mulher se descobre grávida, muitas dúvidas, expectativas e medos surgem na sua mente.

Isso porque uma gravidez e o nascimento de um bebê, apesar de serem uma fase muito especial e desejada na vida de várias mulheres, são acompanhados de mudanças profundas na vida do casal. Essas mudanças acontecem por diversas razões, sejam: hormonais, psicológicas, sociais e culturais.

E toda mudança gera sentimentos ambíguos, podem ocorrer momentos de euforia, e outros de sensações de perdas e ansiedade; momentos de felicidade e outros de medo.

Muitos questionamentos surgem, e um deles é: “O que vai acontecer com a nossa vida sexual?” A sexualidade de um casal muda durante a gravidez?

A resposta é sim, não necessariamente será pior, mas certamente será diferente, pois é um período de mudanças que exigem adaptação; seja pelo surgimento ou a substituição por novas práticas sexuais (afinal sexualidade não é sinônimo de penetração vaginal); ou até mesmo a substituição por novas posições sexuais.

Cabe ao casal usar a criatividade e, em um clima de intimidade e boa comunicação, passar por essa fase com maior vinculação afetiva e sem desgastes desnecessários.

A palavra chave para um casal que vai se adaptar a um novo contexto é “comunicação”. Em momentos de dificuldades sexuais, muitos casais se afastam por não conversarem com clareza e empatia. A falta de desejo sexual que acontece em alguns momentos da vida de um casal, não precisa ser acompanhada de um distanciamento afetivo. Em alguns momentos da vida, uma mulher pode dizer que não quer ter uma relação sexual naquele dia, mas nem por isso ela precisa negar um abraço, um beijo, uma carícia, ou seja, o grande segredo desse período é que dificuldades sexuais não sejam confundidas com um distanciamento afetivo ou falta de amor. Não querer ter sexo em um determinado momento não é sinônimo de “não te amo mais”, e isso deve estar bem claro entre o casal.

Muitos casais têm dificuldade de conversar sobre a vida sexual por tabus, e a presença de alguma dificuldade sexual é uma oportunidade de iniciar essa conversa, seja por iniciativa de um dos dois ou com ajuda profissional, quando preciso. Muitas mulheres nessa fase têm mais necessidade de carinho, se sentirem compreendidas e desejadas, que a penetração vaginal.

Algumas mulheres já apresentam algumas mudanças na sua sexualidade no primeiro trimestre da gravidez, e essas dificuldades podem ocorrer por uma série de razões como: sintomas físicos da gravidez (náuseas, vômitos, cansaço), medos de complicações (como abortamentos, sangramentos), foco total na gravidez (quando a mulher quer vivenciar esse momento especial e não deseja ter relações sexuais, especialmente em uma gravidez muito desejada, em casos de infertilidade ou tratamentos para engravidar ou casos de abortamentos ou perdas fetais anteriores).

Algumas mulheres e homens veem a maternidade como algo puro e sagrado e que não combina com sexo, e esse é um aspecto que pode impactar a sexualidade das grávidas e também dos parceiros(as).  

A vivência do sexo é algo saudável, desejável e é completamente seguro na gravidez!

Poucas situações obstétricas contra indicam as relações sexuais, como: ameaça de aborto, bolsa rota, placenta prévia, ameaça de parto prematuro.

Seu obstetra poderá orientá-la!

Enfim, só há motivos para restringir a vida sexual na gravidez caso exista uma razão importante para recomendar a abstinência sexual por razões médicas.

Nem todas as mulheres sentem o impacto da gestação na sexualidade já no primeiro trimestre e, muitas que sentem, melhoram no segundo trimestre, que costuma ser o melhor período de vivência da sexualidade durante a gestação.

Uma minoria de mulheres vivencia um aumento de desejo sexual na gestação, mas infelizmente, são uma minoria.

Alguns problemas sexuais que ocorrem na gestação são: baixa de desejo sexual, uma maior insensibilidade do clitóris (dificultando o orgasmo) e ressecamento vaginal.

É importante dizer que essas alterações são normais da gravidez e não configuram uma doença.

Esses problemas podem ser ainda piores quando um casal já apresentava dificuldades ou disfunções sexuais antes da gravidez e não buscou ajuda.

É comum (e recomendável) que casais que pensam em engravidar e estão com uma frequência sexual muito baixa e uma vida sexual insatisfatória busquem ajuda profissional antes da gravidez, para que a dificuldade não se agrave mais ainda nesse período.

Alguns parceiros também podem desenvolver dificuldades sexuais nesse período por algumas razões, como: medo de machucar a mulher e o bebê, visão idealizada da mulher (como mãe pura, sagrada, e não amante), senso de proteção. Outros homens acham o corpo da mulher grávida muito atraente e têm um aumento do desejo sexual e buscam mais a mulher nesse período.

O terceiro trimestre da gravidez é o período onde as mudanças sexuais são mais acentuadas. Normalmente há uma redução da frequência sexual e o casal vê a necessidade de adaptar as posições sexuais pelo abdome gravídico aumentado.

Algumas mudanças que prejudicam a sexualidade nesse período são: cansaço, insônia, maior sensibilidade mamária, abdome aumentado, posicionamento do feto, dor lombar, perdas urinárias no ato sexual, auto imagem e auto estima comprometidas pelo ganho de peso, mudanças de humor, dificuldade ou desconforto de ter penetração vaginal, culpa por não responder sexualmente as demandas do parceiro(a), medo do parto e da responsabilidade da maternidade, tudo isso pode gerar estresse. Estresse e cansaço são importantes inimigos do desejo sexual.

Posições mais favoráveis à penetração nesse período são as posições de lado (especialmente com a mulher de costas, chamada de conchinha), mulher por cima e mulher com as mãos apoiadas (posição de quatro).

Se houver dificuldade de penetração, outras práticas sexuais devem ser buscadas, desde que agradem a ambos, como: estimulação manual do clitóris, sexo oral ou anal.

Se a causa da dor à penetração for o ressecamento vaginal, pode-se usar lubrificantes e hidratantes vaginais.

Casais com altos níveis de intimidade são os que mais aceitam e negociam uma maior variação de posições e práticas sexuais.

Poucas gestantes conversam sobre suas dificuldades sexuais com seus obstetras, mas isso é altamente recomendável.

Conversar com um profissional pode contribuir para a redução do estresse, tensão emocional e preocupações devido à desinformação.


Referências:

1)      Corbacioglu, M.D., Bakir, V.L.,  Akbayir O.; Goksedef, B.P.C.; Akca A. The role of pregnancy awareness on female sexual function in early gestation. J Sex Med. 2012, 9: 1897-1903.

 

2)      Erol, B., Sanli, O., Korkmaz, D., Seyhan, A., Akman, T., Kadioglu, A. A cross-sectional study of female sexual function and dysfunction during pregnancy. J Sex Med. 2007, 4: 1381-1397.

 

3)      Johnson, C.E. Sexual health during pregnancy and the postpartum. J Sex Med. 2011, 8: 1267-1284.

 

4)      Pauleta, J.R., Pereira, N.M., Graça, L.M. Sexuality during pregnancy. J Sex Med. 2010, 7: 136-142.

 

5)      Serati, M., Salvatore, S., Siesto, G., Cattoni, E., Zanirato, M., Khullar, V., Cromi, A., Ghezzi. F., Bolis, P. Female sexual function during pregnancy and after childbirth. J Sex Med. 2010, 7: 2782-2790.

 

6)      Ribeiro, M.C., Nakamura, M.U., Torloni, M.R., Scanavino, M.T., Amaral, M.L.S., Puga, M.E.S., Mattar, R. Treatments of female sexual dysfunction symptoms during pregnancy: a systematic review of the literature. Sex Med Rev. 2014, 2:1-9.