Brasília / DF - quinta-feira, 02 de maio de 2024

Tipos de Parto e Vida Sexual: Há Diferenças?

Parto normal X Cesariana X Parto normal com episiotomia



 

A partir da consulta de revisão pós-parto, de 4 a 6 semanas, a maioria das mulheres é liberada pelos seus obstetras para retomar a vida sexual, e isso gera em algumas delas receios, angústia e questionamentos:

 

Terei dor?

Faz diferença se fiz parto normal ou cesariana?

Ter ou não feito episiotomia fará diferença na minha vida sexual?

Quais os impactos da amamentação e hormônios?

É normal não ter libido ainda? Quando voltarei ao normal?

Meu parceiro(a) entenderá esse momento que não tenho tanta vontade de ter vida sexual?

 

Parto normal X Cesariana X Parto normal com episiotomia: há diferenças?

 

Um ano após o parto, os estudos mostram que já não há mais a influência do tipo de parto na vida sexual, portanto, independente se foi parto normal ou cesariana, se houve o uso de fórceps, se houve episiotomia (corte feito durante o parto normal no períneo) ou lacerações (se não forem muito graves, com acometimento do ânus e reto): as repercussões na vida sexual não serão permanentes!

 

Ou seja, após um ano, dificilmente uma mulher terá dor ou qualquer alteração na vida sexual (libido, orgasmo, frequência sexual) em função da via de parto. Mas e antes disso?

 

Nos primeiros três meses, os estudos não conseguem afirmar com exatidão que há diferenças entre o parto normal ou cesariana em relação ao recomeço da vida sexual, dor a penetração e influência em outras fases da resposta sexual (como lubrificação, orgasmo e libido). Alguns estudos dizem que não há diferenças, já outros estudos apontam a vantagem da cesariana em relação ao parto normal nesses primeiros meses.

 

As causas dessa incerteza ocorrem porque vários fatores podem influenciar essa diferenciação (além da via de parto escolhida), como: número de partos anteriores, idade da mãe, se ela amamenta ou não, qualidade da relação afetiva, depressão, doenças maternas, se houve episiotomia ou não, se houve laceração perineal ou não; enfim muitos fatores podem dificultar a conclusão dos estudos se a cesariana seria melhor para a vida sexual do que o parto normal nesses primeiros meses.  

 

Apesar das controvérsias em relação a episiotomia, que antes era feita em todas as mulheres submetidas a parto normal, a era dos excessos acabou e vivemos hoje a fase do “bom senso”!

 

Ou seja, nem sempre e nem nunca: a episiotomia deve ser feita apenas quando houver indicação!

 

Fazer episiotomia sempre seria um erro (nem todas as gestantes precisam) e não fazer nunca, pode contribuir para lacerações perineais severas, que podem comprometer a vida sexual a longo prazo, além de complicações como incontinência fecal.

 

Por isso, o obstetra deve avaliar na hora do parto a necessidade ou não de realizá-la (e realizá-la utilizando a técnica correta – episiotomia médio-lateral). Não fazer quando ela é indicada, pode colocar a gestante em risco de laceração perineal, o que seria pior para a vida sexual que uma episiotomia bem indicada.

 

A melhor forma de saber a necessidade ou não é avaliando a distensibilidade do períneo, e essa avaliação é feita pelo obstetra.

 

Sabemos que partos operatórios (fórceps ou a vácuo) e lacerações perineais que acometem o ânus e reto (terceiro e quarto graus) contribuem para um retorno muito mais tardio da vida sexual e maior percentual de dor na relação e outras queixas sexuais. Portanto, essas condições são prejudiciais para o retorno a vida sexual sem queixas.  

 

Então concluindo, nos primeiros meses pós-parto a cesariana parece ser equivalente ao parto normal sem episiotomia ou lacerações, ou seja, um parto normal com períneo íntegro. Se houver episiotomia, uso de fórceps, extração à vácuo ou lacerações mais severas com necessidade de sutura, o recomeço da vida sexual poderá ser adiado, e poderá haver dor associada, que em algumas mulheres persiste de 3 a 6 meses.

 

Mesmo nessas condições, não costumam haver diferenças em relação à vida sexual após um ano do parto, ou seja, as repercussões para a vida sexual não costumam ser permanentes, mas sim temporárias.

 

Naturalmente, outros fatores podem impactar a vida sexual e em especial três são muito importantes: qualidade da relação conjugal, depressão pós-parto e amamentação. Esses aspectos serão abordados em outra página.


Algumas medidas importantes nesse período são: uso de lubrificantes no momento do ato sexual, uso de hidratantes vaginais, busca de outras formas de vivenciar a sexualidade (que pode ser estendida para todo o corpo e não apenas para a área genital), práticas sexuais que permitam o estímulo do clitóris (mesmo sem penetração), e sempre priorizar uma boa comunicação com o parceiro(a), dificuldades sexuais não justificam a não expressão de carinho e afeto!

 

Referências:

 

1)    Johnson, C.E. Sexual health during pregnancy and the postpartum. J Sex Med. 2011, 8: 1267-1284.


2)    Faisal-Cury, A., Menezes, P.R., Quayle, J. The relationship between mode of delivery and sexual health outcomes after childbirth. J Sex Med. 2015, 12:1212-1220.


3)    Barbara, G., Pifarotti, P., Facchin, F. Impact of mode of delivery on female postpartum sexual functioning: spontaneous vaginal delivery and operative vaginal delivery vs cesarean section. J Sex Med. 2016, 13:396-401.


4)    Corrêa Junior, M.D., Passini Júnior, R. Selective episiotomy: indications, techinique, and association with severe perineal lacerations. Rev Bras Ginecol Obstet. 2016, 16: 301-307.


5)    Leeman, L.M., Rogers, R.G. Sex after childbirth. Obstet Gynecol. 2012, 119: 647-55.